Gostei de cinco dos cinco
contos dos treze de O Livro de Areia, a saber: Ulrica, O Espelho e a Máscara,
Avelino Arredondo, O Disco e A Noite dos Dons. Avelino foi o que mais me
impressionou. Daqueles textos que tenho que resistir à vontade de escrevê-lo na
íntegra, à mão, para melhor sorvê-lo e fixá-lo. Nos demais, não me envergonho
que afundei na quasee incompreensível prosa borgeana, com seu excesso de referências
anglo-saxônicas, sua inenarrável e perturbadora capacidade criativa e seus
dogmas irrecuperáveis. Não os alcanço. Cedo perco a base, pó chão, e tenho que correr
de volta à superfície para não me afogar. De novo. Cida Sepulveda.
‘Espero que as notas
apressadas que acabo de ditar não esgotem este livro e que seus sonhos
continuem se ramificando na hospitaleira imaginação daqueles que agora o
fecham.’ Borges, ao epílogo d’O Livro de Areia. Um Mestre, em verdade.
Voltei a brincar de fazer poemas
no frio e chuvoso feriado de Corpus Christi.
Nada do pessoal da editora
nova. Talvez seja o feriado. Talvez não se interessaram pelo livro. Talvez.
Procuro me desviar de lugares
que contenham muita gente em seu bojo, a saber: igrejas, partidos, empresas, reuniões
de condomínios, desfiles, aeroportos e feriados.
Não é que eu seja intolerante
com relação aos crimes que se cometem contra a língua portuguesa, dado que também
eu, com razoável frequência, os protagonizo. Realmente não creio que possa
haver no mundo ser humano capaz de deixar de cometer um único deslize que seja,
tamanha a dimensão da nossa língua. Mas acontece que me reservo o direito de
repelir a convivência com indivíduos que escrevam ‘esplicar’, ‘audeia’ e ainda confunda ‘poliglota’ com ‘pederasta’,
só pra ficar em exemplos desta semana. Juro que não consigo, e nem quero
tentar. Para o meu próprio bem (‘eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem
mim’), procuro a reclusão de meus livros e minhas demais coisas sem importância.
Hoje mesmo entrei em uma discussão
na internet por conta de uma insinuação mal-intencionada contra a turma da Secretaria
de Cultura, que defendi e defendo por ter acompanhado seu desenvolvimento, pelo
menos, nos últimos três anos. Como fui feliz nas argumentações –pelo menos
assim creio, dada a virulência dos ataques que recebi depois- passaram a me
atacar com ‘lateralidades’, ou seja, insistiram não pelo assunto em si, mas
pelos flancos, à margem do que escrevi. Como estratégia de discussão –eu que não
sou estrategista por considerar estas mancomunações pura perda de tempo- lancei
mão de uma brincadeira de Ariano Suassuna em uma de suas aulas-espetáculo:
botei lá que ‘ao redor do buraco tudo é beira’. Aí é que o povo ficou danado.
Finalizo, pois, com certo conteúdo minha participação na contenda, deixando
meus adversários a falar sozinhos. Eles que procurem na internet, ou no raio
que os parta, o que foi que eu quis dizer. Quase botei aquele aforismo do
Sartre sobre os imbecis, mas aí já seria uma agressão declarada, que não caracteriza
meu estilo e nem minha personalidade.
Mellie, a cucciolina, parece
cada vez mais empenhada em destruir os agapantos e as pequenas flores do quintal.
Hoje quase apanhou, por causa disso.
O último círculo do inferno de
Dante devia ser formado por turistas em Campos do Jordão no feriado de Corpus
Christi. A cidade, por sinal, se transformou do dia para a noite em um modelo
de segurança e civilidade. Na segunda-feira, volta tudo ao normal.